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Reconhecimento das mulheres no cinema

  • Foto do escritor: Giovana Costa
    Giovana Costa
  • 10 de nov. de 2019
  • 9 min de leitura

Atualizado: 13 de nov. de 2019


Greta Gerwig dirigindo "Lady Bird: A Hora de Voar" (2017). A diretora é a quinta e mais recente mulher na história indicada ao Oscar de "Melhor Direção" | Foto por: CBSNews

Ainda que a história do cinema não tenha uma data específica de início, é de conhecimento geral que faz muitos anos que a sétima arte encanta a vida de todas e todos. Desde a primeira exibição de um filme de curta duração, realizada pelos Irmãos Lumière no Salão Grand Café, em Paris, em 28 de dezembro de 1895, ao apresentaram seu invento, o Cinematógrafo, os filmes têm expressado diferentes visões de mundo ao redor do globo. E embora as mulheres ainda enfrentam muita desigualdade de gênero dentro da indústria do cinema e por conta desta, muitas delas fizeram história e inspiraram e ainda inspiram muitas outras mulheres a persistirem em suas jornadas.

Que tal conhecer um pouco mais sobre a atuação e o reconhecimento dessas mulheres no cinema?


Alice Guy Blaché (1873-1968)

A francesa Alice Guy-Blaché produzia, escrevia e atuava, além do trabalho como diretora entre 1894 e 1922. Vale lembrar que ela não foi apenas a primeira diretora do cinema francês, como também foi provavelmente a primeira mulher a dirigir um filme na história do cinema, e inclusive, uma das primeira pessoas a ser reconhecida como diretora no mundo, entre homens e mulheres. Ao longo de sua carreira, ela dirigiu cerca de 700 filmes, entre eles estão: “A Fada do Repolho” (1896), “The Consequences of Feminism” (1906), “A Fool and His Money” (1912), “The Ocean Waif” (1916). Até os dias de hoje, em 91 anos de Oscar, somente cinco mulheres foram indicadas a Melhor Direção, são elas: a italiana Lina Wertmüller, em 1977; a neozelandesa Jane Campion, em 1993; a ítalo-norte-americana Sofia Coppola, em 2004; a única vencedora dentre as cinco, Kathryn Bigelow, em 2010; e a última mulher a ser indicada, a americana de ascendência alemã, Greta Gerwig, em 2018.


Alice Guy-Blachè | Foto por: NJ.com

Fernanda Montenegro

Considerada uma das maiores atrizes do país, a brasileira Fernanda Montenegro tornou-se a primeira latino-americana a receber uma indicação para o Oscar em 1999, além de ser a única atriz indicada por um filme pertencente a língua portuguesa. Ela concorreu ao prêmio de "Melhor Atriz" na 71º edição do Oscar, por sua atuação em "Central do Brasil" (1998), pela qual é aclamada até os dias de hoje. Além disso, a atriz de 89 anos já venceu o 41º Emmy Internacional, importante premiação da televisão mundial, por seu papel na série "Doce de Mãe" (2012). Montenegro já atuou em filmes como "Eles Não Usam Black-Tie" (1981), "O Que É Isso Companheiro?" (1997), "O Auto da Compadecida" (2000) e "Rio, Eu Te Amo" (2014).


Fernanda Montenegro | Foto por: IstoÉ

Kathryn Bigelow

A diretora americana Kathryn Bigelow tornou-se a primeira mulher – e até então, a única – a ganhar, somente em 2009, ou seja após 82 anos de premiação, o Oscar de Melhor Direção pela academia de cinema americana, com o filme "Guerra ao Terror" de 2009. É importante lembrar que somente cinco diretoras foram indicadas ao prêmio, contando com Bigelow. As indicadas foram: Lina Wertmüller por "Pasqualino Sete Belezas" (1976); Jane Campion por "O Piano" (1994); Sofia Coppola por "Encontros e Desencontros" (2004); a única mulher a ser premiada nesta categoria, Kathryn Bigelow por "Guerra ao Terror" (2010) e mais recentemente; Greta Gerwig por "Lady Bird" (2018). Bigelow também já dirigiu longas como "A Hora Mais Escura" (2012), "Estranhos Prazeres" (1995) e "Point Break" (1991).


Kathryn Bigelow | Foto por: AdoroCinema

Chantal Akerman (1950-2015)

Trazendo uma nova linguagem para o cinema trabalhando a passagem de tempo e a memória, e sendo possivelmente a primeira mulher a trazer questões de gênero e o "feminino" como tema dentro das telas, a cineasta belga Chantal Akerman assinalou a história cinematográfica com o filme "Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles", de 1975, que é considerado um dos melhores filmes de seu tempo. Akerman também era roteirista, atriz, produtora e professora de cinema. Dentre sua filmografia estão "Notícias de Casa" (1977) e seu último trabalho, o documentário "Não é um filme caseiro" (2015).


Chantal Akerman | Foto por: Slate

Agnès Varda (1928 - 2019)

Sendo uma das precursoras da Nouvelle Vague (movimento artístico do cinema francês), a cineasta belga Agnès Varda foi responsável por revolucionar a história do cinema, tornando-se um dos maiores nomes da sétima arte. Seja através do engajamento social, do experimentalismo estético, do olhar documental ou da sensibilidade que colocava nas suas seleções dos elementos cinematográficos, Varda modificou o cinema a partir do seu trabalho, tanto na chave da ficção, quanto no âmbito documental. Além disso, foi a primeira e única mulher a ganhar a Palma de Ouro honorária por sua notória carreira, na 68ª edição do Festiva de Cannes, um reconhecimento que só foi concedido a outros três cineastas (Woody Allen, em 2002; Clint Eastwood, em 2009; e Bernardo Bertolucci, em 2011) durante a história da premiação. Ela também foi a primeira diretora a ganhar um Oscar pelo conjunto de sua obra. Em mais de 60 anos de carreira, Varda dirigiu filmes como "Cleo das 5 às 7" (1962) “Les glaneurs et la glaneuse” (2000) e "As Praias de Agnès" (2008).


Agnès Varda | Foto por:Pipoca Moderna

Hattie McDaniel (1895 - 1952)

Filha de um casal de ex-escravos, a atriz e cantora norte-americana Hattie McDaniel tornou-se a primeira mulher negra a receber um Oscar, em 1940. Reconhecida por sua atuação como Atriz Coadjuvante no clássico "...E o vento levou" (1939), McDaniel costumava dividir seu tempo entre a atuação nos filmes e seu trabalho como empregada doméstica. Além disso, ela atuou em mais de 74 papéis no cinema, ainda que na maioria deles ela tenha vivido escravas, empregadas ou servas, devido ao racismo e preconceito do período. Após receber a estatueta, ela desceu do palco e voltou para sua mesa longe da equipe do filme, localizada em uma área separada que era exclusivamente para os negros, próximo da cozinha, mais uma marca do retrocesso da época. A atriz já atuou em longas como "A Mulher Que Soube Amar" (1935), "A Mascote do Regimento" (1935) e "Magnólia - O Barco das Ilusões" (1936).


Hattie McDaniel | Foto por: Vox

Halle Berry

A atriz norte-americana Halle Berry é a primeira e única mulher negra, na história do cinema, a ganhar o prêmio de "Melhor Atriz". Ela recebeu a estatueta em 2002, pela sua atuação em "A última Ceia" (2001), o que significa que uma mulher negra foi reconhecida pela Academia após 75 anos desde a fundação do prêmio! Durante seu discurso de aceitação, Berry declarou entusiasmada: “Eu dedico esse prêmio a toda mulher negra que agora tem chance pela porta que foi aberta na noite de hoje”. Mas desde 2002, quando ela ganhou o prêmio, nenhuma mulher negra foi premiada nesta categoria. Em 2016, durante um painel da conferência "2016 MAKERS", a atriz revelou um grande desapontamento em relação a defasagem no reconhecimento de mulheres negras em Hollywood: "Eu acreditava de coração, com todas as minhas forças que, naquele momento, quando eu disse 'A porta se abriu esta noite' eu estava incentivando a mudança, pois aquela porta, aquela barreira, tinha sido quebrada... Estar aqui, 15 anos depois, sabendo que outra mulher de cor ainda não passou por aquela porta é de partir o coração. Eu pensava que aquele momento era maior do que eu. É devastador pensar que aquele momento não era maior do que eu. Eu realmente sentia que era" lamentou a atriz. Berry já atuou em filmes como: "Espiral da Cobiça" (1996), “Mulher-Gato” (2004), "A Viagem" (2012) e "O Sequestro" (2017).


Halle Berry | Foto por: Frazer Harrison/Getty Images

Cléo de Verberena (1909-1972)

A cineasta e atriz brasileira Cléo de Verberana, iniciando sua carreira aos 22 anos, tornou-se a primeira mulher brasileira a dirigir um filme no país: "O Mistério do Dominó Preto" (1931). É importante ressaltar que além da direção, ela também financiou e produziu o longa, além de ter atuado no mesmo. Um outro projeto no qual ela estava diretamente envolvida é o filme "Canção do Destino", mas ele não foi concluído e depois ela se afastou da indústria cinematográfica brasileira.


Cléo de Verberena | Foto por: Caixa de Sucessos

Daniela Vega

Antes da carreira no cinema, a atriz e cantora lírica chilena, Daniela Vega trabalhava como cabeleireira em um salão de beleza. O convite para atuar surgiu despretensiosamente, já que a princípio, ela iria apenas prestar uma consultoria à produção do longa "Uma Mulher Fantástica" (2017), longa que traz as dificuldades enfrentadas por uma mulher transexual que precisa lidar com o preconceito da família de seu ex-companheiro. Vega iria fazer a consultoria, até que ela tornou-se a protagonista do filme e, após seu desempenho na atuação, foi muito bem reconhecida pela crítica. A atriz fez história no Oscar 2018, pois se tornou a primeira atriz transexual a participar da cerimônia, enquanto o filme foi premiado "Melhor Filme de Língua Estrangeira".


Daniela Vega | Foto por: Pipoca Moderna

Dorothy Arzner

A diretora estadunidense Dorothy Arzner iniciou sua carreira no cinema mudo, ao final dos anos 20. Ela tinha funções mistas: além de dirigir, também atuava, produzia e participava das montagens. Durante a Era de Ouro do cinema americano, Azner foi a única diretora mulher da época, até o começo dos anos 40. Além disso, ela foi a primeira mulher a dirigir um filme falado, a trazer temáticas sobre homossexualidade e a entrar para o Directors Guild of America, em 1939. Dentre seus trabalhos mais marcantes, está "Quando a Mulher Se Opõe" (1932), que aborda temas como alcoolismo e relacionamento aberto. Vale lembrar que a obra surgiu antes do código Hays, um conjunto de regras que foram criadas nos anos 30 para moralizar as produções de Hollywood, a fim de trazer temas menos voltados a questões religiosas ou sexuais, portanto trata-se de um longa a frente de seu tempo. Ela dirigiu filmes como: "Garotas na Farra" (1929), "Assim Amam as Mulheres" (1933), "A Vida é uma Dança" (1940).


Dorothy Arzner | Foto por: Advocate

Adélia Sampaio

Ainda que o apagamento de mulheres negras seja muito recorrente no cinema, a cineasta brasileira Adélia Sampaio marcou a história da sétima arte brasileira. Começou sua carreira de cineasta fazendo de tudo um pouco como produtora, continuísta, câmera, maquiadora e montadora, atuando em diversas funções em mais de 70 trabalhos. Até que, num contexto de conservadorismo político e moral, frente às amarras da Ditadura no país (inclusive seu marido foi preso e torturado), ela começou a produzir curtas na década de 70. Abordando importantes questões sociais, a cineasta sempre almejou trabalhar com pessoas negras. Em 1984, ela dirigiu o primeiro longa dirigido por uma mulher negra no Brasil: "Amor Maldito", que traz a história de amor trágica entre duas mulheres, e que enfrentou muitas dificuldades para ser lançado na época. Além disso, de acordo com a tese "Cinema na Panela de Barro: Mulheres Negras e suas narrativas de amor, afeto e identidade", de Edileuza Penha de Souza, apresentada em 2013, pelo Departamento de Educação da Universidade Federal de Brasília, Adélia Sampaio é a primeira cineasta negra brasileira. Dentre suas obras estão: "Denúncia Vazia" (1979), "Um Drink para Tetéia e História Banal" (1987) e "O Mundo de Dentro" (2018).


Adélia Sampaio | Foto por: Miranda/Agência O Globo

Katharine Hepburn (1907 - 2003)

A atriz norte americana Katharine Hepburn marcou o cinema com seu brilhantismo nas telas, seu talento e sua atitude combativa quando o assunto era quebrar padrões em uma Hollywood envolta pelo machismo dos anos 30. No início de sua carreira, ela começou nos palcos da Broadway, até que em 1932, garantiu seu primeiro contrato com um estúdio. Em 1934, ela recebeu sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz, pelo filme "Manhã de Glória", e faturou o prêmio. O fato é que Hepburn tornou-se a primeira e única intérprete, entre homens e mulheres, a ganhar quatro estatuetas como Melhor Atriz. Até os dias de hoje, ninguém possui tantos Oscars dessa categoria principal como ela. Além disso, ela conhecida por sua postura firme frente às imposições da época: ela se negava a usar vestidos, maquiagem e performar feminidade fora das telas. E apesar de ter sido muito criticada na época, nunca deixou de ser ela mesma. Dentre doze indicações a Melhor Atriz, ela venceu quatro com os longas: "Manhã de Glória" (1933), "Adivinhe Quem Vem Para Jantar" (1967), "O Leão no Inverno" (1968) e "Num Lago Dourado" (1981).


Katharine Hepburn | Foto por: Purple Clover

Hannah Beachler

A americana Hannah Beachler é diretora de arte e tornou-se a primeira pessoa negra, dentre homens e mulheres, a ganhar um Oscar por Melhor Direção de Arte, por seu trabalho em "Pantera Negra" (2018), além de também ser a primeira a ser indicada em toda a premiação, desde sua fundação em 1929. Ela já havia trabalhado na direção de arte em produções como o especial Lemonade (2016) da cantora Beyoncé, "Moonlight: Sob a Luz do Luar" (2016), vencedor do prêmio de Melhor Filme no Oscar 2017, e "Creed: Nascido para Lutar" (2015).


Hannah Beachler | Foto por: Glamour Brasil

Domee Shi

No Oscar 2019, a diretora e ilustradora de storyboard chinesa Domee Shi fez história ao receber o prêmio de Melhor Curta de Animação pelo curta "Bao" (2018), ao tornar-se a primeira mulher a dirigir um curta pelo estúdio de animação Pixar. Mesmo com cerca de 30 anos de existência e todo o seu prestígio pelas produções, o estúdio, e participou da produção de algumas produções como "O Bom Dinossauro" (2015) e "Os Incríveis 2" (2018).


Domee Shi | Foto por: IMDb

Ruth E. Carter

A figurinista americana Ruth E. Carter também fez história no Oscar 2019 ao tornar-se a primeira mulher negra a receber a estatueta de figurino. Foi a terceira vez que ela foi indicada a categoria, sendo que a primeira aconteceu a partir do filme "Malcolm X" (1992), momento em que a primeira indicação de uma mulher negra ocorreu, e a segunda vez foi através do longa "Amistad" (1998). Ela finalmente levou o Oscar pelo seu trabalho em "Pantera Negra" (2017).


Ruth E. Carter | Foto por: Hollywood Reporter/IMG

Estas são apenas algumas das mulheres incríveis que trabalham todos os dias para criar, ilustrar e melhorar a sétima arte. Ainda existem várias profissionais trabalhando no cinema que ainda não foram reconhecidas "oficialmente", mas que transformam o cinema com a sua dedicação e talento. Que tal conhecer mais delas? Existe alguma profissional que te inspirou ou marcou? Deixe seu relato abaixo nos comentários. Certamente todas e todos vão adorar conhecê-las!

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