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Os Caça Fantasmas

Direção: Ivan Reitman

 

Ano: 1984
 

Gênero: Ficção científica, comédia
 

Duração do filme: 1h47m
 

Passa no teste de Bechdel: Não

Columbia Pictures

     Os Caça Fantasmas (“Ghostbusters”, em inglês) é um filme norte-americano dos gêneros comédia e ficção-científica dirigido por Ivan Reitman e roteiro produzido pelos atores Dan Aykroyd, Rick Moranis e Harold Ramis. Contando com efeitos de computador, muitas falas improvisadas, um orçamento de 30 milhões de dólares e cinco galões de creme de barbear em cima do ator William Atherton para criar o vilão "fofo" feito de Marshmallow - Stay Puft -, Os Caça Fantasmas marcou os anos 80 com sua narrativa criativa, seus recursos fantasiosos e sua comédia horripilante.  Com duas indicações ao Oscar de 1985, "Melhor Canção Original" - "Ghostbusters" e "Melhores Efeitos Especiais", o filme foi um sucesso entre os jovens. De acordo com o site Box Office Mojo que, avalia o desempenho das bilheterias, o êxito foi tão grande que, arrecadando um valor de 295 milhões de dólares, tornou-se o segundo filme mais vendido no ano de 1984, perdendo apenas para "Um Tira da Pesada", dirigido por Martin Brest.

     A ideia inicial, era que o longa se passasse no futuro, mas por conta do provável altíssimo custo, foi adaptada. O filme foi ranqueado pelo American Film Institute (Instituto Americano de Filmes) como o 28° em uma lista das 100 melhores comédias de todos os tempos (em uma lista chamada "AFI's 100 Years… 100 Laughs" - 100 Anos de American Film Institute… 100 risadas). Em 2000, os leitores da revista Total Film elegeram Os Caça Fantasmas como o 44° melhor filme de comédia de todos os tempos. Enquanto, em 2005, o IGN (Imagine Games Network) elegeu o longa como a melhor comédia de todos os tempos. Influenciando inclusive gerações futuras, como mostra o sucesso da série "Stranger Things" (2016) de Ross Duffer e Matt Duffer, com inúmeras referências a produções dos anos 80, incluindo também uma homenagem direta em um dos episódios em que os meninos usam as roupas dos Caça Fantasmas, o filme ganhou tamanho reconhecimento do público que ganhou duas séries animadas, "The Real Ghostbusters" (1986) e "Extreme Ghostbusters" (1997); uma continuação, “Os Caça Fantasmas 2” (1989) e um remake, “Caça Fantasmas” (2016).

Protagonismo feminino X Misoginia do público

     Com o mesmo enredo, a fim de contar a história da origem dos Caça Fantasmas, mas com um protagonismo diferente, o reboot, isto é, a regravação do clássico de 1984, “Caça Fantasmas” lançado em 2016, sofreu diversos ataques. Isso aconteceu pois, ao invés de trazer o quarteto formado por homens, o diretor Paul Feig, trouxe uma proposta diferente: um quarteto de caça fantasmas formado por mulheres, interpretadas por  Melissa McCarthy, Kristen Wiig, Kate McKinnon e Leslie Jones. Contando com uma nova perspectiva, o filme também expõe as questões de gêneros através de tiradas sutis e piadas irônicas sobre sexismo e uma inversão de “papéis estereotipados”. Por exemplo, o papel da recepcionista Janine, é na verdade interpretado por Chris Hemsworth, que dá vida a Kevin, um homem bonito, mas intelectualmente limitado que é reduzido a um profissional desajeitado, o que seria o equivalente ao estereótipo de “mulher burra” nas produções preconceituosas de Hollywood.

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Fonte: Divulgação/Hollywoodiano

     Apesar de contar com a participação especial de Bill Murray, Dan Aykroyd e Ernie Hudson, que atuaram como protagonistas no filme de 1984, e aparecem numa menção honrosa a versão de 1984, o filme foi alvo de muita misoginia na Internet. Tanto as atrizes, quanto o diretor do filme receberam comentários raivosos e inclusive ameaças de morte por conta do remake. Com 45 millhões de visualizações no YouTube, o primeiro trailer oficial do filme acumula 306 mil likes e impressionantemente, 1 milhão de dislikes. Além disso, é possível ver pelo teor dos comentários, que a ideia de retratar um clássico dos ano 80 com protagonismo feminino causou muito incômodo a alguns misóginos. Confira alguns comentários no trailer internacional oficial, no Youtube:

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* a identidade das pessoas que fizeram os comentário foi preservada

     O primeiro comentário traz uma equação no mínimo curiosa: “Feminismo + atores ruins = regravação de Caça Fantasmas”. Já o segundo faz uma alusão à frase dita por Neil Armstrong ao pisar na Lua e uma hashtag bem direta: “Um deslike para um homem. Mais de um milhão de deslikes para a humanidade #DigaNãoAPropagandaFeminista”. Já o último comentário traz um relato sobre a experiência de assistir ao trailer do filme nos cinemas: “Fui ao cinema ontem a noite e então este trailer passou antes do filme que eu ia assistir, o cinema interrompeu o trailer com vaias”.

     Enquanto a regravação do filme trouxe uma repercussão polêmica, porém uma proposta inovadora e diversificada, o clássico Caça Fantasmas em si já deixa bem claro em suas cenas que o tipo de representação feminina que apresenta, pouco escapa dos estereótipos. Dana Barret (Sigourney Weaver) é uma das personagens femininas que ganha um pouco mais de destaque na trama e possui interessantes características, além de uma personalidade um pouco mais definida que as demais mulheres do filme. Ela mora sozinha, é independente, toca violoncelo profissionalmente em uma grande orquestra sinfônica e é a primeira cliente dos Caça Fantasmas. Mas apesar de toda independência, precisar lidar diariamente com as investidas de seu insistente vizinho Louis Tully (Rick Moranis) e após algum tempo é a única mulher no longa que aparece com um pouco mais de frequência, mas sempre rodeada de homens, pois precisa ser salva por eles. Ao conhecer os Caça Fantasmas, ela também é importunada pelo cientista  Peter Venkman, que passa grande parte do filme tentando conquistá-la com cantadas baratas e pouco profissionalismo. Conhecido por seu jeito despojado, ele flerta com quase todas as mulheres que aparecem no filme e apesar dele se apresentar como um homem gentil e galanteador, suas falas explicitam seus pensamentos machistas, tanto em relação a seus interesses amorosos (como Jenifer e Dana), quanto em relação ao tratamento que dá às mulheres que buscam os serviços dos cientistas (a bibliotecária e Dana novamente, por exemplo), pois não poupa nenhuma delas de suas investidas invasivas. A bibliotecária, além de não possuir um nome, mal é aproveitada na história, apesar de sua importante participação na trama, afinal, é a partir de sua experiência com um fantasma que a equipe é chamada. Porém, ela não é uma personagem aprofundada, pouco sabe-se sobre ela e ainda é submetida a constrangedora situação de ter de responder perguntas descabidas feitas por Venkman, durante sua entrevista.

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Dana é a única mulher com maior tempo de tela, mas ainda é a mocinha a ser resgatada | Foto por: People

     A recepcionista Janine Melnitz (Annie Potts) por exemplo, outra mulher com um pouco mais de destaque no longa e ainda menor que o de Dana, lida com os machismos de Venkman, seu chefe. Ela é representada como uma profissional pouco séria e sem muitos talentos, além disso, não é possível saber sobre sua trajetória, seus sonhos ou o que ela fazia antes de se candidatar para o cargo. É importante pontuar também que ela está sempre rodeada de homens, o que a encaixa perfeitamente no estereótipo de Smurfette, já que o único momento em que ela aparece no filme conversando com outra mulher, é quando ela atende Dana. É importante pontuar que nos anos 80, os filmes que traziam comédia e aventuras eram frequentemente protagonizados por homens. Seguindo a tendência dos anos 70 em dar preferência ao protagonismo masculino, dificilmente mulheres eram protagonistas de histórias cheias de ação, façanhas interessantes e mistérios cabulosos. Afinal, seus papéis eram reduzidos à namoradas ou interesses amorosos, amigas e mães dos protagonistas homens, como comprovam produções como “Superman 2 - A Aventura Continua” (1980), “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida" (1981), "Blade Runner - O Caçador de Androides" (1982) e "Karatê Kid - A Hora da Verdade" (1984), por exemplo.

     Os enquadramentos de “Os Caça Fantasmas” não hipersexualizam as personagens femininas mas as falas e cenas que constantemente sugerem sedução diretamente atribuídas às mulheres já cumprem esse papel. Como uma espectadora mulher, confesso que algumas falas são surpreendentes pelo teor misógino, algo que nem mesmo o tom cômico foi capaz de atenuar, além das inúmeras tentativas de flerte que além de importunas devido a insistência, causam certo desconforto pela repetição. Com certeza as tentativas de flerte são válidas, mas quando passam do limite se tornam desagradáveis. E levando em consideração todas as representações femininas do filme e o fato de que a única interação entre mulheres foi apenas um breve contato entre Janine e Dana, que inclusive foi interrompido por Venkman, quando o assunto discutido era sobre homens (os Caça Fantasmas), não surpreende o fato de que a ameaça final tenha assumido uma forma “diferente” dos vilões padrões dos filmes da época, para “amedrontar” o protagonismo masculino do longa. Inclusive, o fato de uma mulher representar o vilão é muito significativo, ainda que para algumas pessoas não represente nada.

Você pode conferir a análise fílmica completa de "Os Caça Fantasmas" clicando no logo abaixo:

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