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Matrix

Direção: Lana Wachowski, Lilly Wachowski

 

Ano: 1999
 

Gênero: Ficção científica, ação
 

Duração do filme: 2h30m
 

Passa no teste de Bechdel: Sim, mas há ressalvas*

Village Roadshow Pictures

     Matrix é um filme australo-estadunidense dos gêneros ficção científica e ação, dirigido por Lilly e Lana Wachowski. Com a ascensão dos computadores nos anos 90, o universo complexo e futurista de Matrix surgiu num contexto de expansão da tecnologia cibernética. Aliando inúmeras referências como "Alice através do espelho", pós modernidade, parâmetros religiosos, uso de nomes mitológicos (o nome dos próprios personagens fazem alusão à Perséfone, Trindade e Morfeu, por exemplo), efeitos visuais impressionantes e uma produção impecável com seu orçamento de 63 milhões de dólares, o filme ganhou muito destaque e sucesso. Numa época repleta de comédias românticas que se passavam nas escolas americanas, como acontecia nos anos 90, o filme surgiu num universo distópico, onde a ilusão e a realidade se conectam constantemente. Matrix tornou-se rapidamente uma narrativa transmídia com sua trilogia de filmes (Matrix de 1999, Matrix Reloaded de 2003 e Matrix Revolutions também de 2003, lançado alguns meses depois do segundo), quadrinhos disponíveis na web, com o lançamento do anime antes do segundo filme e games para computador. Indicado ao Oscar 2000, ganhou pelas seguintes categorias: "Melhor Montagem", "Melhores Edição de Som", "Melhores Efeitos Visuais" e "Melhor Mixagem de Som". Além de ter sido indicado ao Grammy 2000 por "Melhor Trilha Sonora".

     De acordo com o site Box Office Mojo que avalia o desempenho das bilheterias, o sucesso foi tamanho que o primeiro filme da trilogia arrecadou o valor de 463,5 milhões de dólares. Além disso, considerado entretenimento para a era da inteligência coletiva, toda a especulação e decifração gerada por Matrix, devido sua estrutura narrativa em camadas, sustenta uma profundidade de experiência muito inovadora e rica para os telespectadores. Até mesmo as lacunas da história e as respostas enigmáticas dadas em entrevistas (tanto do elenco quanto das diretoras) sustentam a profundidade da narrativa, despertando o interesse coletivo de dissecar todas as camadas que, por sua vez, expandem o potencial da franquia. Os fãs e espectadores, aprofundando-se através de um movimento de conhecimento coletivo e imersão na narrativa, por meio dos mais diversos elementos que compõe a característica multimídia de Matrix, nutrem uma fidelidade gigantesca pela trilogia, o que, certamente, garantiu seu sucesso e influenciou outras produções no futuro, como “Batman” e “Vingadores”, por exemplo.

     Em relação ao teste de Bechdel, há quem concorde que o filme passa no teste, apesar de contemplar em partes a terceira “regra” do teste: o assunto não ser sobre homens. Porém, é notável que, no longa, existe uma tentativa de trazer personagens femininas mais ativas, singulares e combativas. Switch (Belinda McClory), por exemplo, que assim como Trinity é uma mulher que faz parte da resistência do universo de Matriz, apesar de aparecer pouquíssimas vezes, mostra-se firme em relação às suas decisões, é direta e muito inteligente. Além disso, sua aparência e figurino são originais e não parecem ser apenas escolhas que irão seguir os clichês da mulher “ideal”, diferentemente da criação de Mouse, a “mulher de vermelho”, que faz o papel clichê da mulher sensual. Ela é hipersexualizada e apresenta vários estereótipos: a mulher branca, loira, dos olhos azuis, magra mas voluptuosa, ela não fala, apenas sorri e traz sensualidade às cenas. Outro fator surpreendente é Oráculo: uma das personagens mais importantes da história é uma  mulher tranquila, confiante, de olhar calmo e de muita sabedoria. O fato dela aparecer e surpreender a todos por ser uma mulher negra de meia idade é muito significativo e revela muito sobre o pensamento limitado que criamos de que grandes personagens, líderes, só podem ser apresentados como homens. Ainda assim, não conhecemos as trajetórias e motivações de Switch, Mouse e Oráculo. Elas estão presentes na narrativa, mas pouco aparecem e não têm suas jornadas apresentadas. Já a participação de Trinity na narrativa é, sem dúvida, muito mais significativa. Ela é o braço direito de Morpheus, está sempre o ajudando, é leal a resistência, seu treinamento é impecável, ela é uma mulher corajosa, decidida e faz suas próprias escolhas. Porém, ela também lida com o machismo de Cypher e é subestimada pelos policiais que surgem no começo do filme, além de se mostrar acostumada com a falta de credibilidade que recebe por ser mulher. Somente Morpheus, Neo, a tripulação e os agentes reconhecem sua força e habilidade. Porém, também não é possível entender um pouco de seu passado ou conhecer seus sonhos, pois isso não é apresentado, já que o destaque está no protagonista masculino. 

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Switch e Trinity são as únicas mulheres que fazem parte da Tripulação | Foto por: Screengrab/The Matrix

     Também é perceptível como seu romance com Neo é construído de maneira a vulnerabilizá-la, mostrando-a de forma mais sensível quando está com ele, e também verossimilhante ao “papel da mocinha” nos filmes de ação: apaixonada pelo messias que surge com o objetivo de salvar a todos que estão em perigo. Seu amor por Neo é uma das principais ferramentas para a construção do personagem masculino principal, pois com ajuda deste amor, Neo é capaz de se conhecer melhor e compreender seus propósitos na história. Além disso, os clichês como “o beijo salvador da morte” e o “amor predestinado” enxergado pela clarividência de Oráculo, também denotam essa construção menos inovadora da personagem na narrativa, apesar das referências à religião e às distopias. Entretanto, é notável que nenhum desses pontos diminui a importância da personagem no longa. Sua participação é ativa, ela é fundamental para a salvação de Neo e o resgate de Morpheus, é uma hacker extremamente talentosa e corajosa, e está sempre garantindo a segurança da tripulação. E apesar das roupas vinílicas e justas que Trinity usa neste filme, não são usados enquadramentos machistas que de alguma maneira possam sexualizar a personagem. Como espectadora, confesso que me desapontei um pouco com o rumo da resolução amorosa, mas em contrapartida, a personalidade de Switch, o preparo e eficiência de Trinity e o fato de Oráculo ser uma mulher negra na história, realmente me surpreenderam e inspiraram.

Você pode conferir a análise fílmica completa de "Matrix" clicando no logo abaixo:

     

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