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Mulher-Maravilha

Direção: Patty Jenkins

Ano: 2017
 

Gênero: Ficção científica, super-heróis

Duração do filme: 2h29m
 

Passa no teste de Bechdel: Sim

dc comics/warner bros entertainment

     Mulher-Maravilha é um filme norte-americano do gênero ficção científica e do segmento de filmes de super-heróis, dirigido por Patty Jenkins, que é a primeira mulher a dirigir um filme de super-herói com protagonismo feminino. Na intenção de dar continuidade ao Universo Estendido DC, sendo o quarto filme lançado da franquia, o longa é baseado na personagem Mulher-Maravilha da DC Comics (editora de quadrinhos americanos) e seu roteiro foi feito pelo quadrinista americano Allan Heinberg. De acordo com o site Box Office Mojo que, avalia o desempenho das bilheterias, o filme sobre arrecadou o valor de 821,8 milhões de dólares, enquanto seu orçamento foi de 149 milhões de dólares. A trilha sonora foi criada pelo compositor britânico Rupert Gregson-Williams, mas parte dela já era conhecida pelo público, devido ao icônico solo de guitarra que tornou a participação da Mulher Maravilha mais especial ainda em “Batman VS Superman: A Origem da Justiça” (2016), dirigido por Zack Snyder. Porém é importante pontuar que o desenvolvimento do filme da super-heroína já estava sendo planejado desde 1996, mas nunca chegou a ser efetivamente colocado em prática. Além disso, as filmagens aconteceram em diversos países como Itália, Reino Unido e França.

     O longa se tornou um marco na história do cinema, pois o último lançamento de um filme do gênero, protagonizado por uma mulher, aconteceu em 2005 com o lançamento de ”Elektra”. Ou seja, o protagonismo feminino de super-heroínas só voltou às telas após 14 anos. E apesar de o Universo Cinematográfico Marvel ter reinventado a produção de filmes de super-heróis quando lançou seus primeiros filmes, as mulheres não tinham tanto destaque quantos os homens, imagine só se elas teriam um filme solo! Nos quadrinhos, a origem da Mulher-Maravilha se deu a partir do contexto de nacionalismo da Segunda Guerra Mundial, somado a emancipação feminina vivida nos EUA, quando as mulheres saíram dos lares e partiram para o trabalho enquanto os homens guerreavam, em 1941. A trajetória de Diana Prince sempre foi um sucesso entre o público, tão expressivo que ela ganhou um gibi próprio, num momento em que Super-Homem e Batman eram os únicos heróis da DC a terem seus próprios quadrinhos. Ao longo dos anos seu visual e uniforme mudaram bastante, mas a essência da semideusa que luta por justiça não mudou e ela sempre teve muito destaque na DC Comics. Em 75 anos de existência, até os dias de hoje ela é muito respeitada e querida ao redor do mundo. Em 2017, com a ascensão do movimento feminista e a possibilidade de uma direção feminina, o filme surgiu quebrando o padrão repetitivo e masculino dos filmes de heróis, dando continuidade ao recente Universo Estendido DC de filmes e trazendo a oportunidade de abrir portas para mais super-heroínas e protagonismo feminino nas telas.

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As mudanças de visual não alteraram a personalidade e essência da personagem | Fonte: DC Comics

     Apesar de Diana ser uma semideusa no filme, é possível perceber uma certa diversidade no longa, já que na ilha de Themyscira são vistas variadas etnias, assim como também são mostrados homens de diferentes culturas em Londres e a secretária de Steve Trevor é uma mulher fora dos padrões hollywoodianos. Levando em consideração a profundidade das personagens femininas, o filme acerta em alguns aspectos e deixa a desejar em alguns, mas a representatividade está sempre presente. As Amazonas são bem representadas, possuem uma trajetória, sua origem é explicada e suas motivações são bem contempladas, bem como as histórias de Diana e das demais mulheres. Etta Candy (Lucy Davis) também possui uma boa representação: ela tem uma personalidade própria, suas características como seu bom humor e sua determinação são bem marcantes. Infelizmente não é possível conhecer muito da sua jornada, mas ela é uma personagem valorizada dentro da história e em nenhum momento ela é julgada negativamente por seu tamanho ou por seu trabalho, pelo contrário, é reconhecida por seu empenho, inteligência, agilidade e lealdade. A doutora Maru (Elena Anaya) por sua vez, tem um tempo de tela um pouco maior, mais ainda assim tem sua participação e trajetória totalmente atreladas aos objetivos do general Erich Ludendorff (Danny Huston). A ideia que se pode ter sobre ela, baseada em algumas cenas, é que ela é uma mulher retraída, muito inteligente e competente, reconhecida por seu excelente trabalho na química, mas triste, provavelmente por causa do ambiente de guerra e algum possível trauma do passado que supostamente poderia ter causado suas cicatrizes. Mas não é possível conhecer a sua história, infelizmente. 

     O longa entrega interessantes personagens femininas, sem estereótipos que as reduzam a unidimensionalidade. O roteiro é muito bom, trazendo importantes críticas às motivações da guerra e cenas muito bem trabalhadas e desenvolvidas, com enquadramentos mais humanos e sem cortes que hipersexualizam o corpo feminino. O que acontece com a semideusa mais tarde, no filme “Liga da Justiça” (2017), dirigido por Zack Snyder que, inclusive, é o produtor do longa da semideusa. Em um certo ponto do filme, a super-heroína conversa com Bruce Wayne (Ben Affleck) e Barry Allen (Ezra Miller), que estão descendo de um avião. Sem necessidade alguma, a câmera é direcionada para Wayne, mas ao ser descentralizada foca no corpo dela por alguns incômodos segundos, seguido de um pouco de zoom. Confesso que foi decepcionante perceber esse desserviço com a personagem enquanto assistia o filme no cinema, e ainda me perguntei se fui a única a percebê-lo.

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Em "Liga da justiça" (2017), Diana conversa com Bruce Wayne e Barry Allen que, são filmados de costas, mas em plano americano centralizado, num enquadramento comum
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Porém, quando a câmera muda de perspectiva para filmar Wayne, ela é descentralizada e verticalizada, filmado o quadril da personagem. Sendo que quaisquer outro tipo de enquadramento poderia ter sido utilizado nesta cena para filmar o homem morcego
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Como se a descentralizar a câmera para filmar o corpo da personagem não bastasse, também é o usado o zoom in na cena.

     Voltando ao filme solo de Diana, também é preciso também fazer considerações sobre seu relacionamento com o espião e piloto Steve Trevor. Equivocadamente, as pessoas esperam a negação do romance em filmes considerados “feministas”, justamente por estarem influenciadas pelo estereótipo da “mulher forte” que não se abala por nada e muito menos vai se interessar por alguém, já que por ser tão focada e auto suficiente supostamente enxerga a possibilidade de se apaixonar como perda de tempo. Em Mulher-Maravilha a negação do romance não acontece e é importante refletir quais motivos podem ter desencadeado tal trajetória que, certamente, também contribuíram para uma personagem bem desenvolvida. Pois ainda que a super-heroína seja uma mulher independente, suficiente e engajada, ela também pode se apaixonar, sentir atração e ter vontade de passar por novas experiências em sua vida. Afinal, Diana mostra-se curiosa em conhecer o novo o tempo todo ao longo do filme, seja na sua infância em Themyscira ou simplesmente quando chega no “mundo dos homens”. E ainda que no final, uma de suas inspirações para continuar na Terra seja o amor, motivada por Steve Trevor, o que entendo é que não é apenas o amor romântico a tocou. Mas sim o companheirismo, a lealdade e principalmente o bem que ela encontrou neste mundo, apesar de toda maldade da guerra. Seja através da amizade dos companheiros de jornada, o empenho e simpatia de Etta ou a compaixão das pessoas do vilarejo em que se abrigou. Além disso, a luta por mudança e pela justiça, que ela enxergou tanto em seus companheiros de equipe, quanto e principalmente em Steve, a inspiraram. A relação que ela tem com o piloto é muito bonita, pois não existe apenas o romance, mas sim muito respeito, compaixão e admiração, de ambas as partes. Inclusive, Patty Jenkins deixa bem claro que os sentimentos têm uma função importante na história: "Para mim, a essência da história é o que é ser um herói. É combater o vilão? Sim, as vezes, mas é mais do que isso. Porém acaba sendo o que nós acabamos descobrindo quando adultos… É muito mais sobre compreensão, amor, perdão e a complexidade da vida. E como usar seus poderes como adulto, de maneira inteligente e gentil". Ou seja, além de ser inteligente, determinada e passível de se apaixonar, Diana também é poderosa, corajosa e sabe lidar com explosões e golpes agressivos. Uma característica não anula a outra, ela possui traços de uma mulher real (apesar de ser uma semideusa) com muitas possibilidades e diversos atributos. Ela não é reduzida ao clichê da mulher durona que se entrega ao trabalho, luta o tempo todo e é fria com todos a sua volta. Ou então, a garota deslumbrada que vive em função do príncipe encantado e espera ser salva. Existe um equilíbrio em sua jornada que, é fascinante e se desenvolve independentemente da presença masculina.

     Como fã da personagem, de filmes do gênero e como espectadora, confesso que esperei ansiosamente por este longa. Desde pequena sonhava com o momento em que veria Diana nas telas do cinema, incentivada pelas animações e pelos episódios da série “Liga da Justiça - Sem Limites” (2004). Me contentava em assistir os filmes do meu herói favorito, Batman, mas sabia que a identificação que sentia por ele não podia ser completa, como a qual eu compartilhava com a semideusa. Quando finalmente tive a oportunidade de vê-la no cinema, me emocionei diversas vezes ao assistir tudo o que eu imaginei e um pouco mais. A beleza de Themyscira, a sororidade das Amazonas, a importância que foi dada as batalhas com enquadramentos emocionantes, Diana descobrindo seus poderes, sua inocência frente ao mundo dos homens, sua determinação e maneira de enxergar as pessoas, sua personalidade e sua trajetória. Existe romance, alguns clichês narrativos também, há o galanteio barato e o machismo da época, mas existe muita emancipação feminina, valorização do trabalho das mulheres, e estímulo para que novas histórias possam ser protagonizadas por mulheres reais e multidimensionais.

     Você pode conferir a análise fílmica completa de "Mulher-Maravilha" clicando no logo abaixo:

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