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Kelly McGillis e os efeitos do ageísmo em Hollywood

  • Foto do escritor: Giovana Costa
    Giovana Costa
  • 10 de nov. de 2019
  • 6 min de leitura

Atualizado: 29 de jan. de 2020

A atriz não foi chamada para a sequência do clássico dos anos 80 “Top Gun”, trazendo a tona a discriminação etária sofrida pelas mulheres no cinema.



Kelly McGillis no filme “Top Gun” e atualmente | Foto: Everett Collection/Getty Images

Este ano, durante um painel na clássica convenção multi-gênero de entretenimento, San Diego Comic-Con, realizada anualmente em San Diego, na Califórnia, a Paramount Pictures surpreendeu o público ao anunciar o primeiro trailer de “Top Gun: Maverick”, a sequência do clássico “Top Gun – Ases Indomáveis”, lançado em 1986, após 34 anos. Os fãs foram à loucura com o anúncio que, foi especialmente feito pelo protagonista, Tom Cruise, que retorna ao papel de Maverick. Ele será mentor de uma nova geração de pilotos, que resiste para se manter relevante em um mundo repleto de tecnologia, especialmente drones. O lançamento está previsto para 2020.

Dirigido por Tony Scott, com um orçamento de US$ 15 milhões de dólares, o filme norte-americano, do gênero ação, estreou em maio de 1986 nos Estados Unidos, arrecadando US$ 8 milhões de dólares em seu primeiro final de semana. Mundialmente, o longa arrecadou aproximadamente 356,8 milhões de dólares, de acordo com o site Box Office Mojo que, avalia o desempenho das bilheterias. Com sua temática envolta de militarismo e busca pela honra, se tornou uma das maiores bilheterias de 1986, além de ter ganhado vários prêmios como Melhor Canção Original no Oscar 1987 e Melhor Canção Original no Golden Globe Awards 1987, ambos por 'Take My Breath Away" de Giorgio Moroder. O roteiro do filme foi inspirado em um artigo chamado “Top Guns” de Ehud Yonay em 1983, que foi lançado na revista “California”. O artigo descrevia as atividades dos pilotos de caça da Naval Air Station Miramar, situado em San Diego e auto-apelidado de “Fightertown EUA“. De acordo com o produtor John Davis, o longa inspirou inúmeros garotos, para se alistarem na Marinha, e finalmente, tornarem-se indomáveis pilotos de jatos de combate. Após o lançamento, a Marinha dos EUA afirmou que o número de jovens alistados para Aviadores Navais aumentou em 500%. E além do impacto militar, a moda da época também logo foi afetada. Afinal, a marca registrada de Maverick, uma jaqueta bomber de couro e gola de pelo e os óculos do modelo "aviador" logo tornaram-se uma tendência oitentista.


Tom Cruise é aclamado pelo público ao anunciar a sequência de Top Gun | Foto: Movie Web

"Top Gun" conta a história de Pete "Maverick" Mitchell (Tom Cruise), um jovem garoto que ingressa na Academia Aérea para se tornar um piloto de caça. Ele e seu amigo Goose (Anthony Edwards) são direcionados à Top Gun, um local de treinamento da Marinha, exclusivo para os melhores pilotos de jatos de combate do mundo. Enfrentando suas dificuldades e aprendendo a lidar com a competição do mundo da Marinha, ele se desafia constantemente. Lá também acaba se envolvendo numa história de amor com Charlotte “Charlie” Blackwood (Kelly McGillis), uma bela jovem com quem ele vive românticos momentos, embalados pela trilha “Take My Breath Away”. Entretanto, apesar de tantas referências, elementos clássicos do filme de 1986 e a presença de Tom Cruise, que reviverá o antigo “namoradinho da América”, o longa não contará com a participação da atriz Kelly McGillis. Em entrevista para o programa americano de televisão Entertainment Tonight, a atriz afirmou que acredita não ter sido convidada para o novo longa por estar “velha e gorda”. A intérprete de Charlie será substituída pela atriz Jennifer Connelly, de 48 anos, que foi escalada para fazer par romântico com Cruise, de 57 anos. “Eu estou velha e gorda e aparento ter a minha idade”, afirma McGillis, que ainda em seus 62 anos lida com o preconceito na indústria, apesar de ainda continuar no ramo da atuação, garante que não encontra mais tantos papéis expressivos como o que viveu em "Top Gun".

A declaração da atriz trouxe à tona uma questão muito importante: a falta de oportunidade de papéis para mulheres mais velhas em Hollywood. Na teoria, a experiência aumenta o número de oportunidades daqueles que estão se aprimorando na carreira profissional, mas aparentemente, a prática em Hollywood parece ser diferente quando o assunto é em relação às mulheres. Chamado de “ageísmo”, o preconceito por idade é um dos temas mais recorrentes em relação à discriminação sofrida por mulheres que, ao atingir determinada idade, encontram dificuldades para encontrar trabalhos. Inclusive, o assunto já está em pauta há algum tempo, apesar de estar ganhando mais notoriedade agora que os movimentos feministas têm ganhado mais destaque nas principais questões da indústria cinematográfica. No Golden Globes 2015 por exemplo, as atrizes Tina Fey e Amy Poehler brincaram com Patricia Arquette, indicada ao prêmio por “Boyhood”, afirmando: “‘Boyhood’ prova que ainda há ótimos papéis para mulheres com mais de 40 anos, desde que você seja contratada antes dos 40”, fazendo referência ao fato do longa ter levado 12 anos para ser feito. Também no mesmo ano, a atriz Maggie Gyllenhaal revelou ao site de notícias The Wrap que aos 37 anos de idade teve de lidar com o preconceito ao tentar um papel. "Tenho 37 anos e me disseram recentemente que estou muito velha para interpretar o interesse romântico de um homem de 55. Foi espantoso. Me senti mal, depois fiquei com raiva e no fim acabei rindo", afirmou a atriz.


A atriz Maggie Gyllenhaal também já teve problemas com o ageísmo em Hollywood | Foto: REUTERS/Mike Blake

A partir da repercussão do caso de Gyllenhaal, foram publicados em muitos sites comparativos de idade. O produtor e escritor britânico Stephen Follows fez uma pesquisa para descobrir se existe uma diferença histórica de idade entre os protagonistas femininos e masculinos de filmes românticos. Sua análise foi baseada em 422 filmes românticos, entre eles dramas e comédias românticas lançados entre 1984 e 2014, que arrecadaram mais de um milhão de dólares nas bilheterias. Follows constatou que em nenhum momento, nos últimos 30 anos, a média de idade das protagonistas mulheres foi maior que a de seus parceiros. Sendo que a diferença entre seus anos de vida diminui em longas dirigidos por mulheres - que englobam 12% dos 422 filmes estudados. Além disso, ele percebeu que, os homens em filmes românticos são, em média, 4,5 anos mais velhos que as mulheres com quem fazem par romântico. A pesquisa ainda traz dados mais específicos sobre a frequência com a qual atores como Richard Gere, Robert Redford e Dudley Moore trabalham ao lado de mulheres mais novas, por exemplo.

Dados da pesquisa de Matt Daniels e Hanah Anderson, do Polygraph.com, plataforma americana de cultura popular, comprovam o descaso com as atrizes mais velhas. Analisando o roteiro de dois mil filmes e compilando informações sobre idade e gênero os pesquisadores conseguiram avaliar a quantidade de diálogos atribuídos a atores e atrizes, e é muito claro como há pouquíssimo protagonismo para as mulheres que estão depois dos 40 anos. A média de palavras faladas por elas é de 11 milhões – o que representa apenas 20% do total das falas femininas. O ápice da participação feminina nos longas acontece entre os 22 e os 31 anos, quando são responsáveis por 38% dos diálogos reservados às mulheres. Já o auge da participação masculina, por outro lado, acontece alguns anos depois. Os homens entre 42 e 65 anos possuem muito mais falas: dizem 55 milhões palavras, uma média equivalente à 39% das falas masculinas. Enquanto a idade acaba sendo um fator limitador para as mulheres, o envelhecimento mostra-se um benefício para os homens da indústria, já que além dos papéis, conseguem também mais diálogos. Vale lembrar também que, ao passo em que as mulheres jovens são reduzidas aos papéis “complementares” dos protagonistas homens, isto é, preenchendo suas narrativas com o romance e trazendo jovialidade e sensualidade, os homens mais velhos são vistos como galãs. Retratados como homens poderosos, cheios de charme, sabedoria e inteligência, atores como George Clooney e Brad Pitt ganham diversos elogios pelos cabelos grisalhos e as barbas-por-fazer. Mas a pele madura e as linhas de expressão não são consideradas tão sexys quando aparecem nas atrizes, por exemplo.


Atores mais velhos são exaltados pelos cabelos grisalhos. Pierce Brosnan e George Clooney por exemplo, foram considerados os homens mais sexys do mundo pela revista People| Foto: Mega Curioso

Recentemente, a atriz Nicole Kidman de 52 anos, expôs a questão do ageísmo de maneira brilhante durante seu discurso de agradecimento pelo troféu de Melhor Atriz em Minissérie, por sua atuação em "Big Little Lies", no SAG Awards 2018. "Que maravilhoso que hoje nossas carreiras podem ir além dos 40 anos. Há 20 anos, estaríamos apagadas nessa fase de nossas vidas. Nós estamos provando que somos potentes, poderosas e viáveis. Eu apenas imploro que a indústria permaneça conosco, porque nossas histórias finalmente estão sendo contadas”, afirmou a atriz. Outras atrizes como Catherine Zeta-Jones, Meryl Streep e Jane Fonda já se pronunciaram sobre o assunto, e assim como Kidman, defendem os direitos das mulheres de seguirem suas carreiras tendo oportunidades.


Você pode conferir o discurso de Nicole Kidman abaixo:








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