top of page
Buscar

A desigualdade de gênero é refletida no tempo de fala dos filmes indicados ao Oscar 2019

  • Foto do escritor: Giovana Costa
    Giovana Costa
  • 10 de nov. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 29 de jan. de 2020

Pesquisa revela que pouco mais da metade do total de falas das produções são dos homens.


Startup criou um estudo para avaliar as falas dentre os oito indicados a Melhor Filme no Oscar 2019 | Foto: CinePop

Em algum momento você já parou para pensar no tempo de fala dos personagens em um filme? Esse é um bom medidor para refletir sobre a representatividade dentro das narrativas cinematográficas. Afinal, a fala é um ótimo indicador sobre sua presença, suas ações, seu modo de ser no mundo, suas formas de pensar, agir e tomar decisões. Pensando nisso, vale a pena refletir: será que as produções hollywoodianas mantém um equilíbrio em relação ao tempo de fala de homens em mulheres?

Infelizmente, não. De acordo com uma análise realizada pela startup sueca Ceretai ainda existem problemas de desigualdade de gênero nos filmes. Fundada no início de 2018, a startup tem como objetivo atuar através de softwares para detectar estereótipos e normas na cultura popular, analisando a igualdade e a desigualdade na mídia. Para isto, a Ceretai publicou um estudo baseado nos oito filmes indicados para Melhor Filme, do Oscar 2019. Através de uma técnica construída em torno de algoritmos, os pesquisadores conseguiram analisar o tempo de fala de homens e mulheres em cada produção. Os resultados revelaram que os homens ainda dominam os filmes, já que 71% das falas são masculinas e somente 29% são femininas. Usando reconhecimento de voz, inspeção facial e outros dispositivos para analisar as produções, além de usarem a checagem manual posteriormente para garantir a assertividade dos resultados, os pesquisadores se depararam com esta disparidade de tempo de fala entre os gêneros.


De acordo com a pesquisa, dentre os oito filmes analisados, 71% das falas são dos homens, enquanto apenas 29% são de mulheres. Foto: Forbes

Dentre os oito filmes, aquele que possui maior tempo de fala de mulheres (90%) é "Roma" de Alfonso Cuarón, que traz a história da introspectiva Cleo, que trabalha como babá e empregada doméstica para uma família de classe média, na Cidade do México, em 1970. O segundo filme com maior tempo de fala feminina (69%) é “A Favorita”, dirigido por Yorgos Lanthimos. Contando com forte protagonismo feminino, o longa se passa na Inglaterra do século XVIII, numa trama envolta de inflamadas relações de poder e jogos de interesse. O filme com menor tempo de fala de mulheres (8%) é "Bohemian Rhapsody", dirigido por Bryan Singer, trata-se da biografia de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, Queen. Ficando atrás somente do engajado “Infiltrados na Klan”, de Spike Lee, que possui míseros 10% de tempo de fala de mulheres, o filme que levou a estatueta de “Melhor Filme”, é simplesmente a terceira produção com menor tempo de fala feminina (12%), o controverso “Green Book: O Guia”, dirigido por Peter Farrelly. O longa conta a trajetória de Dr. Don Shirley, um renomado pianista afro-americano, prestes a sair em turnê no ano de 1962, pelo racista sul dos Estados Unidos. Interessante pensar que mesmo dentro de uma lista de indicados etnicamente diversa, com diferentes enredos e até certo engajamento social, ainda exista uma defasagem em relação a questão de gênero.

É uma tendência que se mantém, já que em análises anteriores, como comprova a pesquisa "Prêmios assimétricos da Academia - Um olhar sobre o desequilíbrio de gênero em filmes indicados para filmes de 1977 a 2006" da doutora norte-americana Stacy Smith, para a USC University of Southern California, a participação dos homens ainda supera a das mulheres em uma proporção de 3 para 1. Em seu estudo, Smith analisou padrões de conteúdo pertencentes à representação no cinema e na mídia (gênero, etnia, sexualidade, deficiência e saúde mental); padrões de contratação por trás da câmera (diretores, escritores, produtores e compositores); as oportunidades e as barreiras enfrentadas pelas mulheres e grupos étnicos sub-representados na tela e nos bastidores; análises econômicas examinando correlatos de desempenho de bilheteria; e soluções para a desigualdade no entretenimento. A pesquisa também demonstra que nos filmes entre 1977 e 2006, de 6.833 personagens falantes, apenas 1.865 (27%) eram mulheres. Em relação à média do tempo de fala dos personagens, a situação era ainda mais negativa, já que somente 25% das falas eram de mulheres.

Este cenário é um reflexo de como a estrutura patriarcal se impõe sobre a sociedade e meios de comunicação, principalmente na mídia, através das artes e do entretenimento. Enquanto as narrativas das mulheres são contadas, protagonizadas e premiadas por homens, um padrão de dominância masculina se revela e fornece continuidade ao apagamento de histórias, vivências e inclusive, da oportunidade de mais mulheres serem ouvidas.

Comments


© 2023 by Giovana Costa. Proudly created with Wix.com

bottom of page